Bibliotecas públicas e telecentros: ambientes democráticos e alternativos para a inclusão social
http://www.scielo.br/pdf/ci/v37n1/03.pdf
Professora doutora do Instituto de Ciência da Informação da UFBA.
E-mail: ambar@ufba.br
Maria Dulce Paradella
Mestranda do Programa de Pós-graduação do Instituto de Ciência da
Informação (ICI) da Universidade da Bahia (UFBA).
E-mail: dulce@attglobal.net
Sônia Assis
Auxiliar de biblioteca na Faculdade de Direito da UFBA e formanda em
bBiblioteconomia e documentação no ICI/UFBA.
E-mail: massaserena@yahoo.com.br
Resumo
O acesso e o uso da informação são questões relacionadas ao desenvolvimento
humano em seus múltiplos aspectos. Percebe-se um diferencial entre as pessoas
que têm acessibilidade aos meios de informação – uma pequena parcela da
população – e as que não têm. Nesse sentido, as bibliotecas públicas, os
telecentros ou, ainda, a articulação entre os dois organismos de informação são
propostos com o objetivo de democratizar o acesso e o uso da informação junto
às comunidades e segmentos sociais alijados da participação em sociedade. Essa
é a reflexão, feita a partir da literatura e documentos sobre o objeto deste texto,
com ênfase nos telecentros, visto que as bibliotecas públicas, historicamente, vêm
sendo debatidas há muito tempo, enquanto que os telecentros são organismos
emergentes e devem contar com políticas mais sólidas, para que não esbarrem
nos mesmos entraves que impossibilitaram o sucesso daquelas. Iniciativas de
comunidades, em particular, têm oferecido resultados otimistas nesse sentido.
Palavras-chave
Biblioteca pública. Telecentro. Tecnologia de informação e comunicação. Inclusão social.
Public libraries and the telecenters: information organisms
to democratize and social inclusion
Abstract
Both the access and the use of information are issues related to human development
in its multiple aspects. There is a difference which can be noticed between people
who have access to the means of information – a small percentage of the population
– and those who do not. This way, the public libraries, the telecenters or still the
articulation between these two information organisms are proposed with the objective
to democratize the access and the use of information within communities and social
segments which are currently excluded from participating in society. This is the
reflection proposed, based on literature and documents on the object of this text,
with emphasis on the telecenters, once the public libraries have been historically
debated since long ago, whereas the telecenters are emergent organisms and should
count with more solid policies not to come up against the same restraints which have
impeded the success of the former. The initiatives of some communities, in particular,
have provided optimistic results in this direction.
Keywords
Public Library. Telecenter. Information and communication technology. Social
i
INTRODUÇÃO
A trajetória histórica aponta diversas relações entre o sujeito
e a informação, desde a informação genética e os órgãos dos
sentidos – que ocorrem a partir de uma interação natural,
biológica, e que nos propiciam o contato com o mundo externo
– até as formas de representações simbólicas. Nesse trâmite,
linguagem e pensamento entrecruzam-se no uso e no acesso à
informação e na construção do conhecimento; são articulantes
ao cognitivo. Marcam e definem a sociedade humana, como
um fazer contínuo e um trabalho que se transforma a cada
momento. No cerne da questão, a comunicação dialógica do
pensamento que se transforma e que, ao mesmo tempo, é
transformador, criativo.
Na Idade Moderna – época de grandes transformações
científicas e culturais –, a imprensa industrial traz grande
expectativa em relação ao novo sentido da informação a partir
da circulação do impresso, percebido como forma especial de
democratização e, por isso, de participação social.
Nesse momento, as bibliotecas públicas são compreendidas
como organismos de vital importância social na circulação
da informação, e as políticas públicas começaram a surgir
e a fundamentar ações nesse contexto. Atualmente, o
aparecimento das tecnologias da informação acelera o
processamento, o armazenamento e a comunicação da
informação, e um novo cenário de otimismo parece evocar
a euforia da inclusão social, isto é, a participação social de
todos os sujeitos, independentemente de classe social, raça ou
credo. Assim, as Tecnologias de Informação e Comunicação
(TICs) consolidam-se como importante estratégia para o
desenvolvimento educacional, econômico, político e cultural
de uma sociedade.
O Manifesto da Unesco (1994) sobre a biblioteca pública
aponta para a necessidade de igualdade de acesso à informação
a todos os cidadãos, independentemente de idade, raça, sexo,
religião, nacionalidade, língua ou condição social. Nesse
aspecto, o que fundamenta a existência de uma biblioteca
pública, além da guarda da memória, é a disseminação do
conteúdo do seu acervo, o que redunda em um processo social
inclusivo, pelo acesso, uso e democratização da informação,
científica e cultural, além das informações úteis e necessárias
à atuação do cidadão no dia-a-dia. Vê-se a biblioteca
pública como promotora da igualdade social, pela oferta de
oportunidades a todos, e como força viva para a educação,
cultura e informação. Entre os enunciados do Manifesto da
Unesco, inserem-se dois propósitos que nos chamam a atenção
por já serem focados nas novas tecnologias:
garantir aos cidadãos todo tipo de informação
comunitária;
facilitar o desenvolvimento da informação e da habilidade
de uso de tecnologias.
A criação dos Telecentros visa, igualmente, a esses propósitos,
permitindo amplo acesso à informação pelas camadas sociais
mais desfavorecidas. Segundo o Livro Verde da Sociedade da
Informação no Brasil (TAKAHASHI, 2000), documento que
esboça diretrizes para a inserção do Brasil na sociedade da
informação, o país aponta para a necessidade da inclusão
social, via educação e promoção do acesso à informação.
Vincula essas condições ao exercício da cidadania e da
promoção social. O seu capítulo 4, Educação na Sociedade
da Informação, inicia-se:
A educação é o elemento-chave na construção de uma
sociedade baseada na informação, no conhecimento e no
aprendizado. Parte considerável do desnível entre indivíduos,
organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de
oportunidades relativas ao desenvolvimento da capacidade
de aprender e concretizar inovações. Por outro lado,
educar em uma sociedade da informação significa muito
mais que treinar as pessoas para o uso das tecnologias
de informação e comunicação: trata-se de investir na
criação de competências suficientemente amplas que lhes
permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e
serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento,
operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu
trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias,
seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais
sofisticadas. Trata-se também de formar os indivíduos para
“aprender a aprender”, de modo a serem capazes de lidar
positivamente com a contínua e acelerada transformação
da base tecnológica.
Percebe-se um consenso: o de que a consolidação da democracia
depende de um sistema educacional forte e satisfatório, o
que pressupõe o acesso à cultura e à informação, questões
que se imbricam. Originários de datas diferentes, os dois
documentos mostram as bibliotecas públicas e os telecentros
como organismos inclusivos e até complementares. Possuem
objetivos comuns, reconhecendo a informação como questão
fundamental para a cidadania, para a formação de sujeitos
conscientes de seus deveres e direitos. É nesse sentido que o
acesso e o uso da informação se referem à importante estratégia
para o desenvolvimento educacional, econômico, político e
cultural de uma sociedade.
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