segunda-feira, 4 de abril de 2016

CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE OBRAS RARAS

 Rizio Bruno Sant'Ana

RESUMO: Discute-se a adoção de critérios de raridade em bibliotecas. Para tanto, são analisados os critérios, muitas vezes antagônicos, adotados por colecionadores e por diversas instituições públicas. Em seguida, são estudadas as normas presentes nos principais códigos de catalogação de obras raras, incluindo textos recentemente disponibilizados na Internet. Finalmente, são estudados mais detalhadamente vários textos, encontrados nos catálogos de obras raras das bibliotecas brasileiras, bem como os critérios adotados na Biblioteca Mário de Andrade, da Prefeitura Municipal de São Paulo.
 PALAVRAS-CHAVE: Obras raras; Critérios; Bibliotecas públicas; Colecionadores de livros.

ABSTRACT: The author analyzes the adoption of criteria for the definition of rare books in libraries, studying the criteria adopted by book collectors and many public institutions. After that, we studied the main cataloging codes for rare books, including texts recently in the Internet. Finally, some texts, found in catalogues of rare books of the Brazilian libraries are studied more at great length, as well as the criteria adopted in the Mário de Andrade Public Library of São Paulo.) KEY-WORDS: Rare books; Criteria; Public libraries; Book collectors.

O conceito de obra rara está mais ligado aolivro, mas pode incluir também os periódicos, mapas, folhas volantes, cartões-postais e outros materiais impressos. Fotografias, manuscritos, gravuras e desenhos são obras únicas e originais, e portanto não recebem esta denominação de obra rara; devem receber, no entanto, o mesmo cuidado dispensado às obras raras em relação à preservação e conservação. Neste texto, as palavras “livro” e “obra” são algumas vezes empregadas indistintamente, no sentido de caracterizar qualquer material impresso. De qualquer forma, as obras raras devem ser consideradas como um aspecto específico de um conjunto maior, que seriam as coleções especiais, dentro das bibliotecas. De acordo com o senso comum e a maioria dos dicionários, o livro raro é aquele difícil de encontrar, invulgar, diferente do livro comum. A palavra raro significa também algo valioso ou precioso; uma obra rara seria portanto qualquer publicação incomum, difícil de achar, e com um valor maior do que os livros disponíveis no mercado. O livro raro seria “assim designado por ser detentor de alguma particularidade especial (conteúdo, papel, ilustrações), ou por já serem conhecidos poucos exemplares”, segundo as autoras do Dicionário do livro1. Da mesma forma, para Martínez de Sousa, é um “libro que por la materia de que trata, el corto número de ejemplares impressos o conservados, su antigüedad u otra característica o circunstancia se convierte en una excepción.”2 O uso de critérios de raridade, para criar uma distinção entre as obras valiosas e as demais, tanto por parte de bibliotecas como entre colecionadores, prende-se ao fato de que as obras raras merecem um tratamento 1 FARIA, Maria Isabel; PERICÃO, Maria da Graça. Dicionário do livro: terminologia relativa ao suporte, ao texto, à edição e encadernação, ao tratamento técnico, etc. Lisboa: Guimarães, 1988. p.209. 2 MARTÍNEZ DE SOUSA, José. Diccionario de bibliología y ciencias afines. Madrid: Fundación Germán Sánchez Ruipérez; Piramide, 1989. p.468. diferenciado, devido à dificuldade na obtenção dos exemplares e a seu alto valor histórico e monetário. Parte-se do princípio de que a obra rara é mais difícil de ser reposta, caso desapareça; do mesmo modo, uma obra valiosa é sempre mais visada, merecendo um cuidado maior quanto à segurança do acervo onde está depositada. Em termos bibliográficos, podem ser considerados valiosos os aspectos ligados ao livro enquanto objeto físico ou enquanto meio de transmitir informações e novas visões de mundo (tanto literárias como científicas). Desta forma, o livro seria um representante factual da história do conhecimento, ou seja, um documento verdadeiro do desenvolvimento cultural e social da humanidade. Existe, todavia, uma quase total divergência entre os pontos de vista dos colecionadores e dos responsáveis por bibliotecas públicas especializadas na guarda de livros raros, quanto à definição do que seja uma raridade bibliográfica. Embora ambos reconheçam o valor histórico de uma obra antiga ou de um clássico da literatura, em geral os colecionadores não se prendem à antigüidade de uma obra para sua caracterização como rara, utilizando este termo mais como sinônimo de algo valioso. As bibliotecas, por sua vez, referem-se à data como um dos principais critérios de raridade, reconhecendo na obra a sua possibilidade de uso e não o simples valor monetário. EXEMPLARES ÚNICOS Para os colecionadores, são por vezes pequenos fatores acidentais que na verdade criam os livros raros, fazendo com que obras que poderiam ser consideradas comuns venham a ser muito procuradas, pela dificuldade de localização dos exemplares. Há inúmeros exemplos, inclusive do século XX: o primeiro volume da terceira edição da História geral do Brasil, de Varnhagen, impresso em 1907, teve sua tiragem quase inteiramente destruída em um incêndio na editora Laemmert, no Rio de Janeiro; os poucos exemplares sobreviventes são tão ou

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