quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Biblioteca Viva

Seguindo a programação, a primeira palestra foi de Ramón Salaberria, da Biblioteca Vasconcelos, no México. Ele comentou sobre acessibilidade em bibliotecas, mas não para pessoas com deficiência e, sim, para aqueles que ainda não tem um letramento completo. Para ele, é necessário mostrar para o público sem uma escolaridade completa que a biblioteca pode ser um lugar de apoio e de suporte.
Na sequência, a segunda fala foi do premiado escritor Cristóvão Tezza. Ele leu um texto sobre a importância das bibliotecas em sua vida e as classificou como "um espaço central da civilização". Destacou que em países como o Brasil a "leitura e a escrita nunca foram fenômenos de massa". Finalizou o seu comentário dizendo que " a literatura é o que mostra ao leitor o valor das coisas e aumenta a compreensão do mundo", ressaltando o trabalho dos profissionais do segmento.
A primeira mesa-redonda foi sobre mediação. Uma das primeiras definições sobre o tema foi de Cayo Honorato, professor da UNB, que disse: "a mediação tem a função de ligar a arte com o público, para estimular a participação a ponto de mudar o jogo social". Ainda nesta mesa-redonda, Marisa Lajolo, do Mackenzie e Unicamp, destacou a mediação como um elo entre obras, público e autor. "Temos tantos encontros literários e dizem que não lendo mais. Será que estamos sendo incompetentes em difundir o livro ou estamos na verdade lendo mais?", indaga ela, com a resposta que sim, estamos lendo mais e melhor.
A primeira palestra da tarde foi marcada pela presença da espanhola Inés Miret. Ela conversou sobre o poder da tecnologia e o impacto delas na função social da biblioteca. Definiu a rede como "uma selva amazônica de conversações sobre livros, entretanto algumas dessas conversas são invisíveis para nós". Também falou sobre os fenômenos de resenhas literárias, especialmente em vídeos, processo que ficou conhecido como booktubers.
Disse que esses novos atores são, em parte guiados pelo mercado editorial, mas às vezes, têm mais força e relevância do que as mais avançadas técnicas de marketing. "Os jovens leem por prazer. Mas eles estão sempre em busca de um mentor, para ajudar a se definirem", finalizou, ao falar que cabe as bibliotecas ocuparem este papel de mediação.
O final do dia foi marcado pela apresentação de painéis de 15 minutos com a apresentação das melhores práticas do setor. Três deles são do estado de São Paulo: Birigui, que falou sobre contação de histórias; Tarumã, que explicou o projeto Piquenique Literário; Itanhaém, que falou sobre uma bibliotecária de quase 80 anos que era analfabeta até os 65. Dois painéis são de fora do estado: os profissionais de Belo Horizonte (MG) falaram sobre acessibilidade, ao passo que a bibliotecária de Belém explicou sobre uma parceria com o Capes para auxílios nas doenças psicossociais.
Nesta quarta-feira, 11 de novembro, os destaques do último dia do Seminário Biblioteca Viva foram as palestras do empreendedor social Tião Rocha e da filosofa Marcia Tiburi. O primeiro foi aplaudido de pé ao falar sobre a convergência entre educação, ação social e os crônicos problemas das escolas brasileiras; a filosofa arrancou risos dos presentes com um bem-humorado discurso sobre o papel de mediação dos bibliotecários e da importância da leitura.
Na manhã, Tião falou que era professor de uma universidade em Minas Gerais, mas saiu do emprego para se tornar educador. Para ele “professor ensina, educador aprende”. Com isso, ele seguiu a carreira de empreendedor social, ou “fazedor”, e seu projetos já foram aplicados em cinco estados do Brasil e viraram política pública em países da África e América do Sul.
Baseado nas ideias de Paulo Freire, ele criou uma organização social que elaborou brinquedos educativos; realizou uma leitura crítica da escola tradicional, e, por isso, montou novos processos de aprendizagem; escutou centenas de pessoas na busca de respostas sobre quais caminhos deveria percorrer; fundou mais de uma dezena de bibliotecas itinerantes; conduziu centenas de crianças a adotar o hábito de leitura, e por aí vai.
http://bibliotecaviva.org.br/noticia/37/confira-como-foi-primeiro-dia-seminario-biblioteca-viva
“Projeto isolado e em rede não transforma. O que transforma é bandeira, é causa. Os meus meninos precisam aprender brincando e não sofrendo. E para educar uma criança é preciso convocar uma aldeia e registrar todos os saberes da comunidade”, disse.
Marcia Tiburi abriu a sessão da tarde falando que o livro é um mundo que abre para outros mundos. Relembrou as primeiras vezes em que entrou em uma biblioteca e definiu os profissionais do setor de “heróis da resistência”. Continuou dizendo que no Brasil a leitura, livros e educação não são prioridade e afirmou que as “bibliotecas são um espelho de cada cidade”.
Em seguida, a escritora filosofou sobre o livro, que para ela é um meio de comunicação, informação e de formação. O comparou com a internet, sendo que “o primeiro exige concentração, a segunda é um modo de distração”. Finalizou dizendo que “nas sociedades de informação, como a que estamos vivendo agora, o maior capital é a linguagem”.

MANHÃ E PAINÉIS
A primeira atividade do dia foi uma mesa-redonda com a prefeita de Lençóis Paulista (SP), Izabel Lorenzetti e o prefeito de Garça (SP), José Alcides Faneco. Eles falaram que a biblioteca não deve ser um depósito de livros, mas sim um espaço de leitura e construção do mundo. “Estamos buscando ideias e muitas delas nasceram aqui neste seminário”, afirmou Faneco. “Não quero criar uma cidade de livros e sim de leitores”, complementou Izabel.
O período da tarde foi finalizado com a tradicional apresentação de painéis. A curadoria do evento trouxe cases de Praia Grande (SP), que mostrou um projeto de uma rádio escolar. Na pauta também estava a experiência de Gaxupé (MG), que mobilizou a sociedade civil e voluntários para promover a cultura e a leitura. Também foi exposto o projeto “carteiros-literários”, da capital paulista, que transforma a biblioteca em ponto de cultura e realiza intervenções nos espaços públicos. Outra ideia é da Mala do Livro, do Distrito Federal (DF), em que o poder público colocou 350 minibibliotecas feitas em caixas de madeira em diversos locais. E por fim, mostrou que em Igarapava (SP), a biblioteca escolar fundou uma fanfarra com os alunos e transformou o espaço em um lugar vivo (e bem barulhento).

AGRADECIMENTOS
O diretor executivo da SP Leituras, Pierre André Ruprecht e a coordenadora da Unidade de Bibliotecas e Leitura (UBL), Silvia Antibas, fecharam o Seminário Biblioteca Viva com agradecimentos à equipe organizadora e ao público. Pierre fez um breve resumo sobre alguns dos tópicos falados no evento, chamou os profissionais do setor de “missionários” e disse que uma rara qualidade deles “é a generosidade para compartilhar experiências”.
Já Sílvia ressaltou a “alegria e paixão” dos bibliotecários, disse que “aprendeu muito” com toda as experiências e que a Secretaria de Estado da Cultura está de portas abertas para transformar o setor e as bibliotecas.

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