quinta-feira, 12 de março de 2015

O que falamos quando falamos de processamento técnico

Em: . Por: 1403278021322


Por Erin Leach, do letterstoayounglibrarian.blogspot.com.br. Do original What We Talk About When We Talk About Technical Services. radução por Moreno Barros.
Eu sou uma catalogadora. Está tudo bem, apesar de tudo. Eu não sou aquele tipo de catalogadora.
Eu sei que você sabe o que quero dizer com isso. Mas só para provar o ponto, eu fiz uma experiência e pedi aos meus amigos do Twitter para me dizer os estereótipos sobre as pessoas que trabalham no processamento técnico. Disseram-me que as pessoas que trabalham em serviços técnicos são anti-sociais, avessas à mudança, hostis, rígidas, detalhistas, péssimos comunicadoras, intransigente, regidas por regras e territoriais.
Se você trabalha no atendimento/serviço de referência, tenho certeza que conhece a bibliotecária do processamento técnico: aquela pessoa que suspira pesadamente quando você traz algumas doações para catalogar mas que ao mesmo tempo reclama se algum livro não passar por suas mãos antes de chegar às estantes.
Esse estereótipo não é ajudado relegando departamentos de processamento técnicos para porões ou alguma sala bem ao fundo da biblioteca. Quando fazemos isso, nós dizemos a equipe de serviços técnicos uma história sobre si mesma: você não gosta de pessoas e as pessoas não gostam de você. Vocês não são boas com as pessoas. Vocês devem ficar fora da vista e longe das pessoas que visitam pontos de atendimento na biblioteca.
Por favor, pelo amor de Ranganathan, fique longe das pessoas!
Inerente a isso acho que há uma mensagem mais traiçoeira, também: vocês não tem nada a oferecer para as pessoas que visitam os pontos de atendimento público. Vocês são importantes, mas não tanto quanto as pessoas que colocamos na linha de frente. É de se admirar, então, que a bibliotecária do processamento técnico seja territorial?
Esse não é um sermão contra o atendimento público. Alguns de meus melhores amigos são bibliotecários do serviço de referência.
Para ser justa, eu queria ver se também há um estereótipo do bibliotecário do atendimento. Então eu fiz uma outra experiência e pedi aos meus amigos do Twitter para me dizer os estereótipos sobre as pessoas que trabalham nos serviços públicos. Disseram-me que as pessoas que trabalham no atendimento ao público são volúveis, agressivamente amigáveis, falam alto, sabem-de-tudo mas odeiam matemática e não prestam atenção aos detalhes. Se você trabalha no processamento técnico, você connhece o bibliotecário de referência: aquela pessoa que não sabe como o catálogo funciona e não se importa com isso ou que só joga um monte de pedidos urgentes em você e assume que você vai largar tudo para atendê-los.
Esses estereótipos? Eles não nos colocam mais perto de criar melhores bibliotecas para nossos usuários. Você prefere trabalhar com a pessoa que pensa que você é volúvel? Ou a pessoa que pensa que você é socialmente inepto?
Para roubar uma fala do meu amado The Hold Steady, eu acredito em um cenário de Biblioteca Unificada. Eu acredito que os bibliotecários de serviços públicos e técnicos devem trabalhar juntos para construir uma biblioteca melhor, cada um complementando o trabalho do outro. Eu acredito que os serviços técnicos e habilidades de serviços públicos devem ser tratados com igual importância em cursos de biblioteconomia. Acredito que devemos incentivar (talvez até mesmo exigir?) estudantes de biblioteconomia a obter experiência em ambos os serviços públicos e técnicos. E eu acredito que devemos recrutar novos graduados em biblioteconomia para serviços técnicos, trazendo nova vida e novas ideias.
No interesse de se mover em direção a essa Biblioteconomia Unificada, eu criei um hábito de me envolver em atividades que são vistas como serviços tradicionalmente públicas. Eu trabalhei no programa de recepção de calouros da minha universidade, fazendo sessões de treinamento e reuniões de pesquisa com os alunos. Eu dava aulas para alunos e professores sobre o uso do Twitter. Eu participei de grupos de discussão e estudos de usabilidade com usuários da biblioteca.
Todas essas experiências me fazem uma catalogadora melhor. Eu aprendi como os usuários procuram informações e o que eles fazem com essa informação depois que encontram. Também ganhei uma visão sobre os desafios que os meus colegas nos serviços públicos enfrentam ao tentar ganhar o apoio e gerar entusiasmo no panorama do ensino superior. Mas tanto quanto eu aprendi com os meus colegas de serviços públicos, eu também tenho muito a ensinar-lhes. Eu entendo as coisas peculiares que o catálogo faz e posso ensiná-lo a construir consultas de pesquisa que produzem melhores resultados. Eu posso tornar um material mais acessível trabalhando com você para criar melhores registros bibliográficos. E, no caso de periódicos, eu posso ajudar a desembaraçar os nós de reservas e mudanças de títulos para você.
Eu não posso criar a Biblioteca Unificada sozinha. Eu preciso de colegas de serviços públicos que valorizam o meu trabalho e que se envolverão em atividades que são vistas como atividades de serviços técnicos tradicionais.
Mais uma vez, para roubar uma linha de The Hold Steady: todos nós podemos ser algo maior.

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