sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Livros viram peças de decoração da sala de estar

Livros viram peças de decoração da sala de estar

Zero Hora (do New York Times) - 09/10/13

É temporada de publicação para os decoradores e muitos deles já têm novos livros. A monografia, um modo de exposição antes exclusivo dos arquitetos, parece ter se tornado a publicidade preferida também dos decoradores, mesmo daqueles com poucos anos de experiência em sua área de atuação.
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Ainda assim, o destaque recentemente na William-Wayne & Co., fornecedora de acessórios decorativos como baldes de gelo de vime e luminárias azuis de pote de geleia de Canton, era um título vintage. Em uma redoma de vidro na frente da vitrine, acomodado ao lado de um cinzeiro Stork Club e de um pó compacto vintage da Revlon, estava um pequeno livro com uma listra de zebra característica impressa na sua encadernação de linho.

Publicado em 1940, "I Married Adventure" ("Eu Casei Com a Aventura"), de Osa Johnson, é um diário de memórias da vida da autora em um safári permanente com Martin Johnson, aventureiro e fotógrafo. Assim como os outros objets de vertu ao redor dele, o livro (US$ 150) é uma recordação de um certo estilo de vida boa. Também é um totem familiar para aqueles que trabalham com artes decorativas – estilistas, decoradores e editores de revista – um código visual que traz um sorriso ou uma careta.

— A cada cinco meses, mais ou menos, ele aparece em alguma loja ou exibição de antiguidades, e eu preciso desviar os olhos e correr — disse Jeffrey Bilhuber, decorador de interiores veterano de Manhattan.

— Eu me senti vítima dele uma vez, quando era mais novo. Era minha primeira exibição, há mais de 20 anos, meu toque para um quê de sofisticação. No momento em que o apoiei na mesa, percebi que havia cometido um erro. —

Que livros podem ser bonitos é um truísmo de apostas, uma arte refinada antiga. Que eles podem servir como decoração, um objeto gráfico para ser colocado sobre uma superfície horizontal, como qualquer outro bibelô, é uma verdade que os decoradores abraçaram, tendo como resultado o fato de que alguns títulos tendem a aparecer com a mesma frequência de uma música pop que já tocou demais. Desde o livro de Taschen "Cabinet of Natural Curiosities" ("Gabinete de Curiosidades Naturais"), enorme sucesso de 2001, com sua capa gráfica vermelho coral, até títulos vintage como o de Osa Johnson ou qualquer um de Slim Aarons, fotógrafo do WASP, em serviço durante os anos da "Tempestade de Gelo", o livro da mesinha de centro (ou, o livro ilustrado, para usar o jargão da indústria) pode dizer tanto sobre o decorador quanto sobre o dono.

Como Tom Scheerer, cuja monografia, "Tom Scheerer Decorates", foi lançada recentemente pela Vendome Press, coloca:

— Ah, as entrelinhas e o prestígio da mesinha de centro. —

Scheerer estava pensando sobre "aquela herança e o IMA", como ele chama o diário de Johnson, quando pediu ao seu editor para encadernar seu próprio livro em uma estampa de palha de cana trabalhada.

— Eu estava pensando sobre a competição pelo espaço na mesinha de centro, e em como mudar de posição com esse tipo de trocadilho, uma dupla referência ao beisebol — disse ele, embora, ao invés de escolher uma estampa animal, ele tenha escolhido um padrão de seu próprio léxico visual.

Mark Magowan, editor da Vendome colocou, obrigado, um custo adicional de 35 centavos por cópia. Os compradores já disseram estar jogando fora a capa protetora para exibir o padrão de cana, segundo Scheerer, e um blogueiro de decoração conhecido como Aestate referiu-se ao livro desencapado como "um mimo total para a mesa de centro."

A editora Rizzoli já publicou alguns dos livros ilustrados mais bonitos do mundo, revestindo-os de materiais tão variados quanto mylar, gaze texturizada, couro de crocodilo e plástico gravado. Um de seus best-sellers consistentes, disse Charles Miers, editor da companhia, foi embelezado apenas com letras. A monografia de Tom Ford, com sua capa preta lisa impressa com o nome do decorador em letras brancas em negrito, foi uma homenagem ao título de 1969, "Bauhaus", de Hans Wingler, um item constante nas mesinhas de centro boêmias enquanto esta jornalista crescia.

Em 2004, a monografia de Ford já havia tido muitas impressões, disse Miers. Teve tanto sucesso – na verdade, foi tão ubíquo – que foi banido das páginas da revista House Beautiful, ao lado do diário de Osa Johnson, quando Stephen Drucker era o editor, disse ele.

— Eu cheguei ao ponto onde nós olhávamos a edição e havia quatro salas de estar com o livro de Tom Ford e três quartos com o de Osa Johnson. 'The Cabinet of Natural Curiosities' era como um problema nas exibições. Estava em todos os cômodos, com chifres — disse Ducker.

Margaret Russell, editora da Architectural Digest, concordou. Ela já viu cópias demais desse título da Taschen, disse ela. Vestindo uma jaqueta branca brilhante, estampada com vermelho coral também brilhante, essa reedição das ilustrações de plantas e criaturas exóticas de um zoólogo do século XVIII pesava 9,1 quilos e foi agarrada por cientistas, decoradores e bibliófilos, disse Petra Lamers-Schuetze, editora-chefe na Taschen. Ainda de acordo com Nielsen BookScan, que acompanha as vendas de 85% dos revendedores, apenas 5 mil foram vendidos até agora. (O livro de Tom Scheerer, em comparação, teve a primeira impressão com 10 mil cópias, e Magowan pediu outra leva de impressão.)

— Foi tão maravilhoso quando ele foi lançado, e estava em todos os lugares. O original era enorme e pesado mas, depois, ganhou uma nova vida como uma miniversão e acabou em ainda mais mesinhas de centro. Eu tenho cartas de leitores nos ensinando a usar livros como enfeites ou a levá-los de um cômodo para outro, o que não fazemos, mas, a verdade é que um cômodo sem livros é uma tragédia. Os livros dão uma dica sobre a personalidade das pessoas que vivem ali. Sua mesinha de coquetéis pode revelar muitas coisas sobre você — disse Russel.

Os psicólogos ambientais descrevem a sala de estar como um espaço de aspiração, um lugar onde você apresenta o melhor de si, ou a pessoa que você gostaria de ser. Isso torna a propriedade, conhecida como mesa de centro, o equivalente a um outdoor na estrada ou um luminoso de uma loja. (Note o uso da frase "mesa de coquetéis" de Russel, em uma tentativa de tornar melhor esse espaço.)

Uma vez, os livros já estiveram na mesa como forma de começar uma conversa. Havia a ideia de que você teria lido o livro que estava lá. Agora, não há nem ilusão de que o livro, sequer, já tenha sido aberto. Pode haver objetos – acessórios – em cima dos livros. Em algum momento, o livro da mesa de centro tornou-se uma segunda mesa de centro.

Mario Buatta, cujo primeiro livro, lançado pela Rizzoli, foi encadernado para parecer um livro de recados veneziano do século XVIII, com uma encadernação de estampa de porcelana e uma lombada azul e dourada, aproveitou essa ideia. Ele estava orgulhoso da propaganda de Dame Edna, que escreveu:

— O livro de Mario Buatta só precisa de pernas e seria a mesa de centro perfeita. —

Todavia, estamos desviando o assunto. O que aconteceu? Os cômodos ficaram maiores, assim como os móveis, Drucker disse.

— A mesa de centro se tornou uma garagem para três carros, então os livros tiveram que se tornar minivans. Um livro da Taschen pode ocupar um monte de espaço rapidamente. —

Decoradores tentam personalizar a seleção de acordo com os clientes, comprando catálogos de museus e leilões e livros sobre artistas específicos sendo coletados por um jovem de Wall Street, por exemplo, disse Thom Filicia, o fotogênico decorador, que também é uma marca.

— Os livros podem servir como aspiração e inspiração. Eu tento criar uma narrativa, uma história dentro de uma história — disse ele.

Entretanto, há um perigo com os temas, completou Christopher Coleman, um decorador de Nova York que trabalha, assim como muitos outros, com clientes estrangeiros.

— Você vê muitos atlas. Outra coisa que eu acho clichê são livros da cidade onde você está. Em Miami, você sempre vê 'South Beach Style'. Há os livros TeNeues sobre todas as cidades, e você vê muitos deles. O livro de Avedon está em todos os lugares. E os de Tom Ford, claro — disse ele.

Referindo-se a seus clientes, ele completou:

— Porém, a verdade é que nenhum deles tem um livro sequer. Especialmente se tiverem menos de 40 anos.

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