terça-feira, 25 de junho de 2013

Leitura: políticas públicas devem ter foco em docentes

Leitura: políticas públicas devem ter foco em docentes

Folha Dirigida - 11/06/13

Em um cenário de redução dos índices de leitura, escritores e profissionais do setor do livro destacam as iniciativas da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME) como modelo de políticas públicas de incentivo à leitura no país. Isso porque os estudos revelam que, hoje em dia, são os docentes as figuras mais influentes na formação dos novos leitores.

A temática foi debatida durante o Simpósio Retratos da Leitura no Brasil - 3ª edição, realizado no último dia 6, como um dos eventos paralelos do 15ª Salão FNLIJ do Livro Infantil e Juvenil. Na ocasião, a socióloga Zoara Failla apresentou os dados da 3ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura do Brasil”, divulgada em março de 2012. Encomendada ao Ibope pelo Instituto Pró-Livro (IPL), com apoio da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), a pesquisa — coordenada pela própria Zoara Failla — revelou queda dos índices de leitura do país.
Dos mais de cinco mil brasileiros entrevistados em 315 municípios durante o ano de 2011, só 50% eram leitores. Em números brutos, os dados indicam a presença de 88,2 milhões de leitores no país. Eles leem quatro livros por ano, em média, sendo que apenas dois do começo ao fim. Na segunda edição da mesma pesquisa, realizada em 2007, 55% dos entrevistados eram leitores, totalizando um número de 95,6 milhões de leitores, que liam, em média, 4,7 livros por ano.

Zoara Failla chamou a atenção para a influência do professor na formação de novos leitores. “Em 2007, o professor aparecia com a pessoa mais influente no despertar do gosto pela leitura para 33% dos entrevistados e a mãe era apontada como com a figura mais relevante para 49%. Na versão mais recente, o professor foi apontado como a figura mais influente para 45% dos entrevistados, e as mães apareceram em segundo lugar, com 43%. O trabalho desenvolvido pelos docentes nas escolas é de suma importância”, explicou a coordenadora da 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura.

No entanto, segundo Zoara Failla, o levantamento também revelou que os interesses de leitura dos professores não diferem dos gostos da maioria da população. Os gêneros mais lidos pelos brasileiros são: livros didáticos, bíblia, livros religiosos, livros técnicos, livros infantis e livros de auto-ajuda. As duas publicações mais lidas no período da pesquisa foram “A Cabana” e “Ágape”. E os professores acompanharam essa tendência.

Presidente do Snel, Sonia Jardim assinala o papel estratégico do educador para cativar novos leitores, sugerindo políticas públicas com foco na formação docente. “A análise que se faz é que as políticas públicas não estão funcionando a contento. Os números não mentem. Considero interessante o fato de constatarmos que ele próprio, o professor, não tem o hábito da leitura. E que seus livros prediletos não tem um diferencial em relação ao restante da população.”

Neste aspecto, Sonia Jardim parabeniza a Secretaria Municipal de Educação (SME) do Rio de Janeiro por distribuir livros de literatura para os educadores da rede. “O programa ‘Rio, Cidade de Leitores’ apoia o professor, dando livros, inclusive, de literatura. Livros interessantes, gostosos de ler. Esperamos que os professores se apaixonem por essas obras. Já os programas do Governo Federal se restringem aos livros de formação”, completou a presidente do Snel.

Quem também participou do encontro foi Ana Maria Machado, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL). Na mesa “Reflexões sobre os artigos publicados no livro Retratos da Leitura no Brasil”, que também aconteceu no dia 6, a escritora apresentou seu texto “Sangue nas Veias”. O trabalho integra a publicação Retratos da Leitura no Brasil 3, lançada na bienal de São Paulo no ano passado, que traz uma coletânea de artigos que analisam aspectos variados dos hábitos de leitura dos brasileiros, pautados nos resultados da série de pesquisas Retratos da Leitura no Brasil (2000, 2007, 2011).

Para a presidente da ABL, uma das alternativas para melhorar os índices de leitura do país é justamente estimular professores a lerem literatura. Tal medida, segundo a escritora, ajudará a potencializar o papel estratégico dos docentes no despertar do interesse de crianças e jovens pela leitura.

“Podemos estimular os professores criando uma biblioteca de professores na escola ou um clube de leitura de docentes. Devemos dar oportunidades de os professores terem acesso a livros de leitura, mas sem nenhuma cobrança. O livro precisa ter uma presença maior na formação docente. A maioria das escolas de Pedagogia não tem Literatura Infantil”, avaliou a Ana Maria Machado.

Diante do cenário revelado pelo levantamento, a presidente da ABL destacou as ações desenvolvidas pela SME/RJ voltadas para a formação do professor-leitor. “A SME/RJ desenvolve ações contínuas de incentivo à leitura há oito anos. Em muitos aspectos, os indicadores do Rio de Janeiro são melhores. É o projeto de incentivo à leitura do professor, feito em parceria com FNLIJ, é muito importante. São cursos sobre Literatura Infantil e Literatura Juvenil para os educadores. Eu tenho certeza de que esses números positivos do Rio se devem a esse programa, pois há uma continuidade. Os professores fazem debates sobre os livros que recebem”, explicou a presidente da ABL.

Rio, uma cidade de leitores - O projeto visa a incentivar e fortalecer o hábito da leitura por prazer de alunos e professores da rede municipal de ensino. Dentre suas ações estão a compra de livros de literatura para os professores da rede e criação da comissão Carioca de Leitura, que acompanha e discute as ações de leitura do projeto.

A participação no 15° Salão do Livro integra o programa. Segundo a SME, foram investidos um total de R$1.017.572,50 no evento, sendo R$894 mil destinados ao reforço e atualização dos acervos de 1.440 unidades de ensino e bibliotecas escolares da rede municipal.

Salão do Livro até dia 16 - “A arte de ilustrar livros para crianças e jovens” é o tema do Seminário FNLIJ Bartolomeu Campos de Queirós que se estende até a quinta, dia 13. A atividade integra a programação do “15º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens” que, neste ano, tem como temática central a “Ilustração”.

Em sua 15ª edição, o Salão do Livro homenageia a Colômbia, que enviou personalidades do setor literário para debater os desafios do incentivo à leitura no continente com especialistas e gestores do Brasil. O encontro abrange 71 editoras distribuídas em 85 estandes. As atividades se estendem até o domingo, 16.

A programação inclui uma série de encontros paralelos, como o “Panorama da literatura infantil e juvenil latino-americana — seções latino-americanas do Ibby”, que reunirá representantes de México, Cuba, Bolívia, Peru, Equador, Guatemala, Argentina, Uruguai, Venezuela, entre outros. 

A visitação é aberta ao público, das 8h30 às 18h, de segunda a sexta-feira, e de 10h às 20h, aos sábados e domingos. O ingresso custa R$5. Além de professores da rede municipal do Rio de Janeiro, a gratuidade é concedida a maiores de 60 anos, portadores de deficiência e instituições que trabalham com crianças e jovens de comunidades de baixa renda, pré-agendadas com a FNLIJ.

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