segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Situação das Bibliotecas Escolares no Brasil : o que sabemos


Situação das Bibliotecas Escolares no Brasil : o que sabemos
Bibl. Esc. em R., Ribeirão Preto, v. 1, n. 1, p. 1-29, 2012.

Situation of school libraries in Brazil: what do we know?
Bernadete Santos Campello
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
Professora titular da Escola de Ciência da Informação da UFMG.
E-mail: campello@eci.ufmg.br
Paulo da Terra Caldeira
Mestre em Ciência da Informação pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT.
Professor adjunto da Escola de Ciência da Informação da UFMG.
E-mail: terra@eci.ufmg.br
Maura Alvarenga
Bolsista de Iniciação Científica (CNPq)
E-mail: maura_de_alvarenga@yahoo.com.br
Laura Valladares de Oliveira Soares
Bolsista voluntária
E-mail: laurinhavalladaresbr@gmail.com
Resumo
Este estudo teve como objetivo conhecer as características de diagnósticos sobre bibliotecas escolares brasileiras, elaborados por diversos autores. Foram identificados e analisados dezoito diagnósticos publicados na literatura da área, de 1979 a 2011, de forma a se obter uma visão do que já se estudou e se conhece a respeito das condições das bibliotecas escolares brasileiras. Foram analisados: os objetivos dos diagnósticos, a metodologia utilizada e a técnica de coleta de dados, o referencial teórico, os resultados obtidos, as conclusões e recomendações feitas pelos autores. A variedade de procedimentos de coleta e análise dos dados utilizados em cada diagnóstico impossibilitou inferências e conclusões mais aprofundadas. No conjunto, esses trabalhos compõem um retrato parcial da biblioteca escolar no país, confirmando a situação precária dessas instituições e tornando mais visíveis os problemas existentes.
Palavras-chave: Bibliotecas escolares. Diagnósticos. Brasil.

1 Introdução
A literatura sobre biblioteca escolar no Brasil é pródiga em apontar a precariedade desta instituição nas escolas do país (VIANNA, CARVALHO, SILVA, 2004). Em tom indignado, muitos dos textos ressaltam a importância da biblioteca escolar e, ao mesmo tempo, chamam atenção para suas fragilidades e deficiências, exortando os responsáveis a tomar providências para mudar a situação. Esse “sentimento” de precariedade começou a se concretizar com a publicação de um estudo em 1979, nos anais do 10º Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação. O estudo, denominado Avaliação das bibliotecas escolares de 1º grau na cidade de Londrina, averiguou a situação “real” de 20 bibliotecas de
escolas da rede pública estadual daquele município e confirmou as condições precárias em que funcionavam, concluindo que “Na realidade, a maioria não passa de um ‘depósito de livros’ longe de cumprir os objetivos estabelecidos pela Biblioteconomia” (CRUZ, 1979, p. 848). Desde então, para suprir a necessidade de estudos “menos intuitivos” (CARVALHO, 1884, p. 21) foram realizados outros diagnósticos que levantaram dados de bibliotecas escolares em diversas regiões e municípios do país. Dezoito desses diagnósticos foram identificados na literatura da área (ver ANEXO 1), sendo sete artigos de periódico, cinco trabalhos apresentados em evento, quatro dissertações de mestrado e duas teses de doutorado.
Algumas características desses diagnósticos (forma de publicação, origem institucional dos autores, âmbito geográfico, vinculação e número de bibliotecas estudadas) são apresentadas em ordem cronológica no QUAD. 1. A primeira coluna identifica o primeiro autor do diagnóstico, pelo qual ele será identificado ao longo do presente trabalho.
Os diagnósticos foram publicados entre 1979 e 2011, sendo quinze deles como trabalhos acadêmicos e três como iniciativas de bibliotecários. Foram estudadas, no total, 1365 bibliotecas. Excluindo-se as 114 do estudo de Maciel Filho (que não mencionou a vinculação administrativa das escolas), das 1251 restantes, 1136 pertencem a escolas públicas e 115 a escolas particulares.
Os diagnósticos cobriram as regiões Nordeste (seis diagnósticos), Sudeste (sete) e Sul (cinco). Cinco abrangeram mais de um município, mas a maioria (catorze) estudou bibliotecas de apenas um município, sendo que sete pesquisaram bibliotecas de capitais dos Estados (Florianópolis, Fortaleza, Vitória, Recife, João Pessoa, Belo Horizonte). Os dezoito diagnósticos coletaram dados sobre diversas características de
bibliotecas escolares e, embora esses dados não permitam comparações, no seu conjunto delineiam a situação de um número significativo de bibliotecas escolares do país e podem constituir ponto de partida para estudos mais abrangentes e completos.
2 Objetivo e metodologia
O presente estudo pretende analisar esses diagnósticos, de forma a proporcionar uma visão do que já se estudou e se conhece a respeito das condições das bibliotecas escolares brasileiras. Os dezoito diagnósticos acima identificados e listados no ANEXO 1 formam o corpus de análise do presente estudo. Nesta análise, buscou-se identificar:
a) Os objetivos dos diagnósticos;
b) A metodologia utilizada e a técnica de coleta de dados;
c) O referencial teórico;
d) Os resultados obtidos;
e) As conclusões e recomendações feitas pelos autores.
 O que revelam os diagnósticos
Nesta parte analisam-se os objetivos pretendidos pelos diagnósticos, a metodologia utilizada e o referencial teórico em que se embasaram e, também, os resultados referentes ao espaço físico, ao acervo, ao pessoal e aos serviços e atividades. Além disso, faz-se uma síntese das conclusões e recomendações apresentadas pelos autores.

3.1 O que pretendiam alcançar
Todos os diagnósticos, em maior ou menor grau, tiveram como objetivo coletar e analisar dados quantitativos e/ou qualitativos do que chamaram a “situação real” ou “condições de funcionamento” das bibliotecas. Tais dados dizem respeito, em sua maioria, a: recursos humanos, acervo, serviços oferecidos, espaço físico, mobiliário, aspectos administrativos e financeiros e comunidade de usuários das bibliotecas. Alguns diagnósticos, além da análise de dados quantitativos referentes a esses aspectos, tiveram objetivos mais amplos, como por exemplo:
“Caracterização da ação do bibliotecário escolar...” (MARTINS, 1983, p. 69).
“Avaliar a adequação do acervo tanto na quantidade quanto na qualidade e avaliar o desempenho dos recursos humanos” (CARVALHO, 1984, p. 49).
“... detectar os efeitos de um programa de treinamento para professores que atuam em bibliotecas escolares de 1º e 2º graus e exibição de audiovisual para treinamento de usuários de bibliotecas escolares” (CUARTAS, 1987, p.9).
“... identificar a existência de atividades da biblioteca integradas com as atividades pedagógicas” (BARBOZA, 1991, p. 385).
“Analisar a inclusão das bibliotecas nos planos de educação do estado de Pernambuco e nos programas das escolas públicas de primeiro e segundo graus; analisar a utilização das bibliotecas escolares pelas comunidades usuárias; verificar a adequação do acervo e dos serviços frente às necessidades dos alunos e professores” (BARROS, 1998, p.12).
Um dos diagnósticos (ABREU, 2004) focalizou especificamente a situação dos acervos. Dois estudos (MACIEL FILHO, 2001 e CRUZ, 1979) compararam seus resultados com parâmetros internacionais (UNESCO e IFLA), colocando em evidência as desvantagens das bibliotecas brasileiras. Finalmente, um diagnóstico foi realizado com o objetivo explícito de “... apresentar proposições iniciais de diretrizes e padrões para bibliotecas escolares brasileiras, a fim de melhorar o desenvolvimento e a eficiência dessas bibliotecas” (MAYRINK, 1991, p. 14).
Todos os autores mostraram conhecer de antemão a situação das bibliotecas, caracterizando-a como:
“insatisfatória” (MADUREIRA, 1985, p. 70),
“precária” (QUEIROZ, 1985, p. 8; MARTINS, 1983, p. 68; MADUREIRA, 1985, p. 70),

deficiente” (MACIEL FILHO, 2001, p. 16),

“caótica” (CRUZ, 1979, p. 849; DUARTE, 1998, p. 103),
“grave e alarmante” (NASCIMENTO, 2007, p. 2),
“calamitosa” (PERUCCHI, 1999, p. 82) e
“lastimável” (MARTINS, 1983, p. 106).
Esses autores acreditavam que os resultados obtidos poderiam subsidiar propostas, sugestões e planos para auxiliarem na solução dos problemas identificados. Os trechos abaixo mostram que, na perspectiva de alguns autores, os diagnósticos constituíam o germe para a realização de ações que beneficiassem as bibliotecas da região. Nesse sentido, os diagnósticos
pretendiam:
“... sugerir algumas medidas visando uma mudança da situação atual”

(CRUZ, 1979, p. 842).
“... [servir] de subsídio para um planejamento que poderá ser um instrumento de fortalecimento para o nosso sistema de biblioteca escolar”(CARVALHO, 1984, p. 33).
“... propor subsídios que permitam a melhoria das condições de funcionamento das bibliotecas escolares, visando, a sua integração, de forma objetiva, no processo de ensino-aprendizagem” (MADUREIRA, 1985, p. 22).
“... verificar a situação real das bibliotecas escolares... para posterior elaboração de um plano de ação que atenda aos interesses da população escolar usuária desse serviço” (CUARTAS, 1987, p. 9).
“... apresentar propostas para a melhoria da situação biblioteconômica no contexto educacional” (DUARTE, 1998, p. 83).
“... apresentar uma visão realista das bibliotecas escolares e públicas que possa subsidiar futuras políticas educacionais nos municípios estudados...” (MACIEL FILHO, 2001, p. 295).
“... que os resultados desta pesquisa possam ser utilizados como um cenário para o desenvolvimento e implementação de novas políticas públicas de incentivo à leitura e implantação de bibliotecas em todas as escolas da Rede de Educação” (MARTINS, 2011).

Outros diagnósticos anteviam soluções e mencionavam a criação de programas ou
sistemas de bibliotecas, demonstrando o desejo de solucionar os problemas de forma coletiva
e antecipando uma ação que dependia de forte atuação política. Os trechos abaixo revelam
esta vontade:
“É preciso adotar um programa a nível nacional visando dotar cada escola de uma biblioteca dinâmica e atualizada” (CRUZ, 1979, p. 849).
“... os resultados desta pesquisa poderão servir de argumento [...] para que se obtenha, junto aos órgãos de planejamento educacional de Santa Catarina, a implementação de um sistema de bibliotecas escolares” (ACB, 1981, p. 39).
“... servir de apoio a qualquer implantação e desenvolvimento de um sistema de bibliotecas escolares a nível estadual ou mesmo nacional” (MARTINS, 1983, p. 68).
“... visando à apresentação de subsídios para um futuro planejamento de um
Sistema de Biblioteca Escolar” (CARVALHO, 1984, p. 49).



Os diagnósticos revelam certa indignação, como exemplificado no trabalho de Cruz (1979, p. 849): “Quando se fala tanto na necessidade de melhorar o padrão de ensino no Brasil, não se pode mais admitir essa situação caótica”. Deixam transparecer um tom de denúncia, claramente explicitado por Nascimento (2007, p. 1) que pretendia diagnosticar e denunciar a real situação das bibliotecas das escolas de ensino fundamental da Rede Estadual de Ensino do Município de Ribeirão Preto - SP. Enfim, percebe-se no discurso dos autores uma crença genuína de que a precariedade das bibliotecas escolares estaria interferindo
negativamente na qualidade da educação e que o desvelamento da situação, por meio desses estudos, constituiria um alerta para os responsáveis.
















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