quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Em defesa dos tradutores

Em defesa dos tradutores

Deveria estar sempre estampado na capa: “ei, eu traduzi este livro”. Para perceber que isso não acontece, basta fazer um passeio por qualquer livraria. Ou, mais fácil, seguir direto para a sessão “Literatura Estrangeira”. Se estão em português, não são brasileiras – ou portuguesas –, então tratam-se de obras traduzidas. E para serem traduzidas, claro, a participação do tradutor é compulsória.
Sim, estou escrevendo obviedades. Está na cara – apesar de quase nunca estar na capa – que qualquer obra escrita traduzida necessita de um tradutor para traduzi-la. A questão, no entanto, é a seguinte: por que esconder esse trabalho de tradução? Por que não dar importância ao tradutor? E, enfim, por que colocar a autoria de tradução apenas nas páginas internas e às vezes até escondida?
Existem algumas razões para isso.
Primeiro, uma real apatia dos leitores em relação à tradução. Para muitos, não importa quem a fez, apenas o conteúdo desenvolvido pelo escritor.
Em segundo lugar, imagino se tratar de um relativo desprezo por parte de muitas editoras em relação ao tradutor. O fato de que a importância dada ao autor e ao titulo não deixa espaço para a autoria da tradução – sim, exatamente, a tradução tem uma autoria, assim como a da escrita do livro. Talvez não seja importante editorialmente estampar na capa quem fez a tradução, mas apenas quem escreveu e o título.
Terceiro – e mais grave –, refere-se à tentativa de maquiar traduções ruins ou plagiadas. Sem colocar na capa o nome, é muito mais fácil pagar barato e escolher qualquer um ali da esquina para fazer uma tradução. Ou, então, roubar sem dó uma tradução antiga e colocá-la com nome de outra pessoa. Afinal, se não está na capa, agir criminosamente é mais fácil.
Não é exagero. Denise Bottmann, profissional reconhecida na área, mantém um blog justamente para tratar do assunto: Não gosto de plágio. Lá, vê-se de tudo. Desde Machado de Assis traduzido para o português (como?) até a utilização de trabalhos de tradutores mortos colocando a autoria para outra pessoa. Tais denúncias de Denise já viraram, inclusive, caso de ação do Ministério Público, iniciando uma investigação policial contra a Martin Claret. Esta, inclusive, é uma editora que volta e meia reaparece neste tipo de polêmica e a que mais têm denúncias de Denise – em 2007, tradutores chegaram a fazer um abaixo-assinado contra o plágio de tradução.
E como fica o leitor nessa situação? Resta-nos manter sempre a atenção. Não basta reconhecer o autor, é preciso também criar uma cultura de valorização do tradutor. Aos poucos, da mesma forma como os escritores, os profissionais de tradução passariam a ser mais reconhecidos e, assim, poderíamos escolher obras também pela qualidade do trabalho do tradutor. Deveríamos constantemente pensar: nesse tradutor eu confio, posso ler. E, ao mesmo tempo, deveríamos ignorar editoras que fazem plágio.
Diferentemente do que muitos pensam – ou se esquecem de pensar –, o tradutor é tão importante quanto o escritor. Sem um bom profissional dessa área, a leitura fica comprometida e o autor tem sua obra diminuída em qualidade. O tradutor é quase um coautor. E é justamente assim que ele deve ser respeitado: com o nome estampado na capa.

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