quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A DÉCADA DE 1960: OS BEATLES E OS CATALOGADORES; E A ROSA


A DÉCADA DE 1960: OS BEATLES E OS CATALOGADORES; E A ROSA
[Dezembro/2012]            Fernando Modesto

Mas se estávamos produzindo fichas catalográficas em máquina de datilografia, também buscávamos uma uniformidade internacional das regras de catalogação. Comemoramos o cinquentenário da Conferência Internacional sobre Princípios de Catalogação (International Conference on Cataloguing Principles – ICCP), realizada na cidade de Paris, em outubro de 1961. Fora organizada pela IFLA com apoio da UNESCO. Entre vários fatores que tornaram a Conferência algo essencial para uma moderna visão da atividade catalográfica encontra-se a própria crise da catalogação. Andrew D. Osborn escreveu que:

"Grande parte da Biblioteconomia e da administração de biblioteca não é no todo científica. Durante um bom período de anos os administradores desenvolveram um corpo de boas práticas, e é isso o que pode ser chamado de Biblioteconomia. Talvez tenha havido um mínimo de teoria e um máximo de bom senso no desenvolvimento destas boas práticas, e pode ser que tenha havido certas perdas em minimizar o papel da teoria".

Para o autor, a Biblioteconomia era uma prática, uma técnica na qual faltava um corpo teórico para basear-se, aspecto que também faltava à catalogação. No seu artigo, argumentou que a catalogação se diluía em quatro teorias sem pontos de convergência: a legalista, a perfeccionista, a bibliográfica, e a pragmática. 

Assim, se ao longo da primeira metade do século 20 não houve avanços na constituição de uma normalização da catalogação, por outro lado as guerras mundiais, as crises econômicas e instabilidades políticas daqueles anos em nada favoreceram a consolidação de uma cooperação bibliotecária do tipo que originou as regras da American Library Association (ALA) e daLibrary Association (LA), de 1909. Ademais, os códigos de catalogação da ALA editados nos anos de 1941 e 49 eram uma acumulação de regras que perderam os princípios teóricos. Fazia-se necessário recuperar a teoria e fortalecer o desenho de códigos de catalogação coerentes, não limitados a serem compêndios de regras (ESTIVILL RIUS, 2012).

Foi do trabalho de Lubetzky (e de sua notória influência) que a catalogação e os códigos resgatariam princípios teóricos, como os propostos por Cutter, simplificados em alguns aspectos e revigorados com a inclusão do conceito de obra, como elemento central na função agregadora do catálogo bibliográfico. Em 1954, a IFLA institui um grupo de trabalho composto de catalogadores, representantes de vários países e de várias tradições da catalogação. Sobre o trabalho desta comissão, Alice Príncipe Barbosa comenta que além do preparo da coordenação internacional dos princípios, produziu relatório sobre os mesmos, e no qual estabeleceu orientações de entradas para obras anônimas e de autoria coletiva. O relatório tornava percebível que códigos de catalogação tradicionais como os da ALA e as Instruções Prussianas convergiam para um mesmo ponto, ou seja, apoio ao uso de cabeçalhos mais específicos, evitando-se as entradas geográficas e as entradas formais e convencionais. Recomendava a consulta junto aos especialistas de vários países priorizando os problemas da catalogação em geral. Da recomendação originou-se a Conferência de Paris.

O objetivo da Conferência foi estudar princípios catalográficos sobre os quais os catalogadores se baseiam no momento de elaborar os catálogos bibliográficos. Basicamente, a determinação dos cabeçalhos ou ponto de acesso de autoridade. A influência da Conferência como aprendemos nos cursos de Biblioteconomia, provocou a revisão das regras de catalogação em geral. Aliás, mesmo hoje quando falamos em FRBR (Functional Requirements for Bibliographic Records)FRAD (Functional Requirements for Authority Data), FRSAD(Functional Requirements for Subject Authority Data), e a RDA, cada vez mais a Conferência está presente e serve de planejamento. Ela ainda não acabou, pois os seus efeitos renovam os princípios atuais propostos em 2009.  

Um dos articuladores com papel decisivo e ativo na realização do evento foi o bibliotecário inglês A. H. Chaplin, da Biblioteca Britânica. Envolvido em reuniões prévias, ocupou o cargo de Secretário Executivo do Comitê Organizador da Conferência. Ele destacou que foi o mais amplo e maior encontro de especialistas em catalogação. Compareceram ao evento 105 delegações procedentes de 53 países e doze organizações internacionais, com 104 observadores de 20 países. Fato que marca como os novos princípios precisavam ser ainda mais amplos em participação e envolvimento, agora no inicio do século 21.

Ainda, segundo Barbosa, a realização da Conferência foi oportuna, pois nos dois anos que a precederam, as associações de bibliotecários de vários países foram motivadas a constituir comissões para estudar a documentação previamente distribuída, e a emitir sugestões, bem como designar delegados votantes para o evento. O Brasil foi representado pela bibliotecária Maria Luísa Monteiro da Cunha. A forma como foi estruturada colaborou para uma eficiência nos objetivos buscados, e nas discussões havidas. Para Garrido Arilla, a Conferência ao tratar dos problemas gerais da catalogação, estabeleceu os princípios em matéria de cabeçalhos ou entradas de autoridade, e de obras anônimas no catálogo. Discutir um acordo sobre a escolha e forma de entrada, em especial no caso de sobrenomes compostos, nas transliterações dos autores orientais, no caso de obras escritas por vários autores (coletivas) ou em colaboração, nos nomes geográficos, autores corporativos e anônimos. Entretanto, Barbosa faz uma observação interessante: “os Princípios não foram considerados internacionais, devendo cada país se encarregar de ajustá-los às suas necessidades”.

Faço uma indagação pessoal: no Brasil quais foram os ajustes feitos pela Comissão de Catalogadores? Será que apenas a determinação das “Entradas para nomes de Língua Portuguesa”, apensada à edição do AACR2 é o tal ajuste pretendido? Como a Comunidade de Catalogadores Brasileiros pensa atualmente o controle de autoridade?


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